quarta-feira, junho 30, 2010

Pela liberdade, e em favor da qualidade


É por meio dos milhares de bits da web que milhares de vozes encontram um espaço para se propagarem nas redes digitais. A internet - em parceria com as redes sociais - amplia em larga escala opiniões, pontos de vista e críticas, mas está dando trabalho aos comunicadores sociais. De participação do leitor à busca pelo topo dos Trending Topics no Twitter, todos querem ser vistos, ouvidos e lidos. Mas como confiar em tantas informações? A melhor resposta é: Não confie. Busque sempre outras fontes antes de confiar.

Um dos principais pecados do jornalismo feito para web é a instantaneidade. O jornal on-line não fecha nunca. Nele, a notícia deve publicada o mais rápido possível, para que os internautas acompanhem todos os acontecimentos em tempo real. No entanto, quem realmente está fazendo diferença na internet não é o mais rápido, mas sim o que oferece a melhor qualidade na informação.

Talvez este seja um dos motivos da sobrevivência do jornal de papel. Nele a notícia é mais completa, mais lapidada e o melhor: é apurada. A apuração é um alicerce do jornalismo, e sem ela não há informação de qualidade. Porém, mais do que nunca a internet oferece múltiplas plataformas e formatos para o desenvolvimento de (boas) reportagens. O jornalismo digital pode ser rápido, porém, é ainda mais importante que ele seja bem feito.

Em maio deste ano, alguns veículos publicaram artigos e entrevistas com professores, especialistas em comunicação e grandes jornalistas que discutem o futuro do jornalismo e da própria profissão. Nada mais justo para homenagear do dia da imprensa – 3 de maio. O professor Carlos Alberto Di Franco, em artigo no jornal O Globo, defende a importância da pesquisa jornalística e sua importância para a formação de opinião:

“Não existe crise da mídia impressa. Existe sim, uma grave crise no modo de se fazer jornalismo. Reproduzimos, frequentemente, o politicamente correto. Não apuramos. Não confrontamos as informações de impacto com fontes independentes. Ficamos reféns de grupos que pretendem controlar a agenda pública. Mas o jornalismo de qualidade não pode ficar refém de ninguém, nem da Igreja, nem do movimento gay, nem dos ambientalistas, nem dos governos. Devemos, sim, ficar reféns da verdade.

Já o jornalista com Carl Bernstein –ganhador do prêmio Pulitzer pela cobertura do caso Watergate, ao lado de Bob Woodward – foi entrevistado pela revista Época e reconhece como a internet mudou a forma do manuseio da informação. E afirma que a informação de qualidade não deve mudar, mesmo com “proliferação da mídia” na internet:

“Minha preocupação não é com as plataformas pelas quais as notícias serão distribuídas. Minha preocupação se refere ao que devemos fazer para conservar nas novas plataformas os melhores padrões e tradições de reportagem que as grandes instituições jornalísticas conseguiram estabelecer no século XX. (...) Eu tenho a crença que toda boa reportagem tem de buscar nuances no contexto. Fatos empilhados não são necessariamente a verdade, mas o contexto reflete a verdade. Hoje, o que se lê muito na internet é opinião e até preconceitos políticos ou ideológicos. Dito isso, é preciso dizer que algumas grandes instituições, como The New York Times, The Washington Post, e The Wall Street Journal, têm feito uma transição de sucesso de suas edições para a internet e um jornalismo de alto nível também na web.” Para Bernstein, a busca da versão mais próxima à verdade sempre irá depender das boas reportagens.

Diante de opiniões e decisões sobre o rumo do jornalismo na internet, li o excelente “De Cuba, com carinho”, da filóloga, jornalista e blogueira cubana Yoani Sanchéz. Apesar de viver em uma país que censura e controla a imprensa, Sanchéz encontrou na web uma maneira de divulgar sua voz e suas críticas ao governo. Em um dos trechos do livro (composto por posts de seu blog Generación Y), ela descreve: “Milhares de acontecimentos se dão a cada dia, mas os disciplinados correspondentes dos telejornais não estão autorizados a informá-los. No seu lugar, mostram a Cuba idealizada de realizações agrícolas, superações conquistadas, visitas presidências, compromissos de resistência e pioneirinhos sorridentes. O telefonema autorizado a contar a realidade não chegou – ainda – à redação de nenhum jornal”.

Com um olhar sempre esperançoso, Sanchéz descreve com precisão a realidade de um país em que poucos se relacionam por intermédio das redes sociais. No entanto, ela afirma otimista que não só o conformismo diante da ditadura está chegando ao fim, mas também o silêncio do povo cubano. Por enquanto, é apenas na web que poucos cubanos encontram a democracia e forma precária e restrita. Em uma Cuba livre, sonha-se com liberdade de imprensa e com a internet desempenhando um papel ainda mais importante que a simples troca de informações.

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