quarta-feira, julho 14, 2010

Uma declaração de amor à natureza



Logo nas primeiras páginas do livro "Na África Selvagem" (Wildflower - An Extraordinary Life and Untimely Death in Africa), interrompi a leitura algumas vezes para fazer pequenas buscas na internet. No Google Images digitei: Quênia, Ngala, Ngorongoro, Tanzânia... E logo descobri que o autor, o jornalista Mark Seal, tem razão: a ambientalista Joan Root viveu no mais belo lugar do mundo.


Lançada no Brasil pela Zahar Editora, "Na África Selvagem" é uma obra delicada e profunda, que não só traz uma grande história, mas uma bela história de amor. O título em inglês, aliás, define com perfeição Joan Root, uma mulher que foi verdadeiramente uma flor selvagem.


Ao explorar as selvas e savanas da África, onde a natureza equilibra vida e esplendor, a bela queniana Joan Root encontrou suas verdadeiras paixões. Viveu rodeada por animais selvagens - de gorilas e hipopótamos, a cobras e pássaros - todos em uma perfeita harmonia. Sempre ao lado de seu marido, o cineasta inglês Alan Root, a jovem descendente de britânicos iniciou uma jornada pelo continente africano em busca das melhores cenas da natureza selvagem. Após quase 30 anos de viagens e trabalhos, Joan e Alan Root foram reconhecidos em todo o mundo. Seus filmes ganharam prêmios e foram pioneiros documentaristas da natureza, justamente por seus autores se dedicarem integralmente à vida das paisagens que os cercavam e que tanto amavam.


Joan Root não só deixou um legado por trás das lentes que filmavam e fotografavam seu lar, mas também se dedicou - da mesma forma apaixonada aos seus filmes e a Alan - à preservação do lago Naivasha, no Quênia. Sua dedicação árdua, porém, foi interrompida pelo seu brutal assassinato, em janeiro de 2006. Poucos dias depois, a notícia chegaria ao experiente jornalista Mark Seal, que decidiu investigar a morte de Joan para escrever um artigo à revista Vanity Fair. Segundo Seal, a história teve um impacto tão profundo diante dos leitores, que ele decidiu ir além: se debruçou sob cartas, entrevistas, documentos e filmes para escrever um livro.


O resultado é uma obra delicada, que retrata a vida de Joan Root com maestria, simplicidade e dedicação, da mesma forma que a personagem encarava seus próprios desafios. Por dentro das palavras de Seal, a vida da ambientalista é inspiradora, e a vontade que surge após o fim do livro é de partir nas mesmas aventuras, se apaixonar pela natureza e viver cada momento de maneira inesquecível. Além disso, "Na África Selvagem" contextualiza os múltiplos problemas que ferem a beleza africana. No Quênia, Joan Root lutou contra a poluição e a pesca predatória, provenientes da chegada de milhares de trabalhadores ilegais para a produção gigantescas de flores na região.



Wildflower - An Extraordinary Life and Untimely Death in Africa (2009), Mark Seal

Na África Selvagem

Edição brasileira, 2010. Jorge Zahar Editor

252 p.


Para saber mais sobre documentários da natureza:

www.wildfilmhistory.org


quarta-feira, junho 30, 2010

Pela liberdade, e em favor da qualidade


É por meio dos milhares de bits da web que milhares de vozes encontram um espaço para se propagarem nas redes digitais. A internet - em parceria com as redes sociais - amplia em larga escala opiniões, pontos de vista e críticas, mas está dando trabalho aos comunicadores sociais. De participação do leitor à busca pelo topo dos Trending Topics no Twitter, todos querem ser vistos, ouvidos e lidos. Mas como confiar em tantas informações? A melhor resposta é: Não confie. Busque sempre outras fontes antes de confiar.

Um dos principais pecados do jornalismo feito para web é a instantaneidade. O jornal on-line não fecha nunca. Nele, a notícia deve publicada o mais rápido possível, para que os internautas acompanhem todos os acontecimentos em tempo real. No entanto, quem realmente está fazendo diferença na internet não é o mais rápido, mas sim o que oferece a melhor qualidade na informação.

Talvez este seja um dos motivos da sobrevivência do jornal de papel. Nele a notícia é mais completa, mais lapidada e o melhor: é apurada. A apuração é um alicerce do jornalismo, e sem ela não há informação de qualidade. Porém, mais do que nunca a internet oferece múltiplas plataformas e formatos para o desenvolvimento de (boas) reportagens. O jornalismo digital pode ser rápido, porém, é ainda mais importante que ele seja bem feito.

Em maio deste ano, alguns veículos publicaram artigos e entrevistas com professores, especialistas em comunicação e grandes jornalistas que discutem o futuro do jornalismo e da própria profissão. Nada mais justo para homenagear do dia da imprensa – 3 de maio. O professor Carlos Alberto Di Franco, em artigo no jornal O Globo, defende a importância da pesquisa jornalística e sua importância para a formação de opinião:

“Não existe crise da mídia impressa. Existe sim, uma grave crise no modo de se fazer jornalismo. Reproduzimos, frequentemente, o politicamente correto. Não apuramos. Não confrontamos as informações de impacto com fontes independentes. Ficamos reféns de grupos que pretendem controlar a agenda pública. Mas o jornalismo de qualidade não pode ficar refém de ninguém, nem da Igreja, nem do movimento gay, nem dos ambientalistas, nem dos governos. Devemos, sim, ficar reféns da verdade.

Já o jornalista com Carl Bernstein –ganhador do prêmio Pulitzer pela cobertura do caso Watergate, ao lado de Bob Woodward – foi entrevistado pela revista Época e reconhece como a internet mudou a forma do manuseio da informação. E afirma que a informação de qualidade não deve mudar, mesmo com “proliferação da mídia” na internet:

“Minha preocupação não é com as plataformas pelas quais as notícias serão distribuídas. Minha preocupação se refere ao que devemos fazer para conservar nas novas plataformas os melhores padrões e tradições de reportagem que as grandes instituições jornalísticas conseguiram estabelecer no século XX. (...) Eu tenho a crença que toda boa reportagem tem de buscar nuances no contexto. Fatos empilhados não são necessariamente a verdade, mas o contexto reflete a verdade. Hoje, o que se lê muito na internet é opinião e até preconceitos políticos ou ideológicos. Dito isso, é preciso dizer que algumas grandes instituições, como The New York Times, The Washington Post, e The Wall Street Journal, têm feito uma transição de sucesso de suas edições para a internet e um jornalismo de alto nível também na web.” Para Bernstein, a busca da versão mais próxima à verdade sempre irá depender das boas reportagens.

Diante de opiniões e decisões sobre o rumo do jornalismo na internet, li o excelente “De Cuba, com carinho”, da filóloga, jornalista e blogueira cubana Yoani Sanchéz. Apesar de viver em uma país que censura e controla a imprensa, Sanchéz encontrou na web uma maneira de divulgar sua voz e suas críticas ao governo. Em um dos trechos do livro (composto por posts de seu blog Generación Y), ela descreve: “Milhares de acontecimentos se dão a cada dia, mas os disciplinados correspondentes dos telejornais não estão autorizados a informá-los. No seu lugar, mostram a Cuba idealizada de realizações agrícolas, superações conquistadas, visitas presidências, compromissos de resistência e pioneirinhos sorridentes. O telefonema autorizado a contar a realidade não chegou – ainda – à redação de nenhum jornal”.

Com um olhar sempre esperançoso, Sanchéz descreve com precisão a realidade de um país em que poucos se relacionam por intermédio das redes sociais. No entanto, ela afirma otimista que não só o conformismo diante da ditadura está chegando ao fim, mas também o silêncio do povo cubano. Por enquanto, é apenas na web que poucos cubanos encontram a democracia e forma precária e restrita. Em uma Cuba livre, sonha-se com liberdade de imprensa e com a internet desempenhando um papel ainda mais importante que a simples troca de informações.

sexta-feira, abril 02, 2010

A arte de um mundo pequenino

Não é difícil acompanhar novas vertentes da arte e fotografia por intermédio da internet. Com ajuda da mídia digital, artistas podem promover seus trabalhos, e os fãs, é claro, não demoram a espalhar a ideia pela rede. E a arte pode estar em qualquer lugar: nas ruas, nas músicas, nas imagens... E ela pode ser também muito pequenina! Após alguns cliques e pesquisas, trago a este blog alguns de meus artistas favoritos da arte em miniatura:
O artista e fotógrafo francês Vincent Bousserez lançou em 2009 o ensaio fotográfico Plastic Life, que dá vida aos pequenos bonecos de maquetes em suas fotografias. Parisiense, Bousserez teve a ideia das primeiras cenas em 2005, quando visitou uma loja especializada nas miniaturas. Logo o artista criaria cenários que interagissem com os pequenos personagens em uma série de atividades diárias. Nas imagens, uns escalam um bolo, outros leem jornais, trabalhadores limpam relógios de pulso e lentes de óculos, enquanto outros se divertem entre flores gigantescas.


Segundo Bousserez, uma fotografia pode levar até 30 minutos para ficar pronta: desde a arrumação do cenário até o clique na câmera fotográfica. E para garantir a espontaneidade e irreverência, ele conta que carrega as miniaturas para onde quer que vá, pois "os cenários e as ideias podem aparecer a qualquer momento".


Além deste ensaio, Bousserez também nos brinda com o olhar urbano nas composições de Concrete & Urban e com os belos olhares de Faces. Todas as imagens estão disponíveis em
seu site.

Mais imagens da mostra imperdível de Vicent Bousserez - Plastic Life.


Já o inglês Slinkachu prefere levar suas miniaturas diretamente para as ruas e assim, fazer delas os cenários para as fotografias. Suas ideias também começaram em 2005, mas inicialmente como um hobby. Slinkachu utiliza as ruas como galerias de arte permanente de suas miniaturas de maquetes, mesmo depois do registro para o blog. "Talvez muitos já se perderam por aí, alguns provavelmente foram chutados, ou ficaram destruídos com a chuva, mas é por isso que gosto deles. É uma maneira catártica de dizer adeus aos personagens que eu crio," afirmou o artista ao jornal inglês The Guardian.
Depois de criar o blog, Slinkachu percebeu que poderia ir além da diversão, já que muitos visitantes passaram a reconhecer os lugares das fotografias e iam até eles para encontrar as miniaturas. Além de exibir as fotografias em macro - no plano dos bonequinhos - o artista também os fotografa de seu próprio ponto de vista, criando assim, uma perspectiva interessante entre cada imagem. E Slinkachu não só retrata personagens em suas tarefas diárias, mas também monta situações bizarras e criou ainda o personagem super-héroi Men of Tomorrow, que ganhou uma série própria.
Para promover seu trabalho nas ruas de Londres, o artista lançou o livro com algumas das melhores fotografias e usa o blog para lucrar com o sucesso: na página ele vende itens como buttons e até mesmo skateboards com personagens de seu Tiny Street Art Project impressos. O sucesso ainda rendeu ao artista citações em guias turísticos alternativos de Londres e destaques na imprensa britânica.

Série Same Old Song, no Covent Garden - Londres.


Site oficial do arista: slinkachu.com
O mundo pequenino dos bonecos em miniatura não só estão nas fotografias, mas também em videoclipes. A banda Muse, por exemplo, traz o vídeo da música Uprising que exibe uma cidade em uma escala de 1/25 sendo atacada por teddy bears gigantes e assustadores (!). Enquanto isso, a banda cruza mini ruas, edifícios e lojas em uma caminhonete também pequenina. O clipe foi idealizado pela produtora novaiorquina Humble, que uniu os diretores Sam Stephens e John Hobbs para dar vida às miniaturas e mostrar a revolta delas diante da invasão dos ursos. Segundo os diretores, foram quatro dias de filmagens em dois continentes. Após as filmagens, eles encararam uma maratona de 11 dias, incluindo edição e criação. E avisaram: muitos ursos foram machucados durante as filmagens.





Fotografia, arte, musica... E por que não literatura? Bem, esta já foi uma ideia minha para a capa do livro "Na Praia" de Ian McEwan. Ano passado, quando cursei a disciplina de "Ilustração Digital" na faculdade, precisei criar uma capa para um livro e então imaginei uma pequena maquete... Bastaram os dois bonequinhos, um cenário que busquei no Google Imagens, um pouco de farinha e a câmera!
Gostei de criar também meu mundo pequenino.... :-)



segunda-feira, março 01, 2010

Chuva de borboletas e emoção






Coldplay
28/02/10
Praça da Apoteose - Rio de Janeiro, RJ

Emocionante talvez seja uma palavra simples para descrever o espetáculo Viva la Vida, que o Coldplay trouxe aos cariocas no último dia do mês de fevereiro. Sob uma fraca (mas insistente) chuva, a Praça da Apoteose ficou pequena para os cerca de 30 mil fãs que lotaram as pistas e arquibancadas, e minúscula para a empolgação da banda, que trouxe muitas cores, efeitos, luzes e confetes para mostrar como a música pode ter momentos inesquecíveis.

Chris Martin, Jonny Buckland, Will Champion e Guy Berryman entraram em cena percorrendo rápido o palco e fazendo desenhos no ar com uma pequena corda brilhante, tal como acontece no videoclipe da música Lovers In Japan. Após os aplausos da música de abertura Life in Technicolor, a banda apresentou a aclamada Clocks, cantada por todos os fãs enquanto Martin tateava em seu piano os efusivos e famosos acordes da canção - que desta vez, além do verde, ganhou um mar de laser vermelho. "Obrigado por virem a um show do Coldplay em um domingo à noite", afirmou o vocalista.

Poucos foram os que viram a primeira apresentação da banda inglesa em 2003, na Barra da Tijuca, quando acontecia turnê de lançamento do excelente A Rush of Blood to the Head. De sete anos para cá, foram dois novos álbuns com canções cada vez mais populares, que passaram a não atrair apenas centenas de fãs a pequenas casas de show, mas milhares, em grandes estádios de cidades em todo o mundo.

Portanto, foi com alegria que o público recebeu In My Place, The Scientist e God Put a Smile Upon Your Face, além de Yellow, que tingiu a Praça de amarelo com luzes e bolas gigantes recheadas com confetes que saltavam entre os braços dos fãs. A grande festa de cores também ficou por conta das mais recentes Viva la Vida (ganhadora do Grammy de melhor canção em 2009) e Lovers in Japan, com sua chuva de confetes coloridos em forma de borboletas – sem dúvida um dos momentos mais emocionantes do show. Já em Shiver, a banda se aproximou do público em um pequeno palco localizado entre as pistas, e foi recebida por um mar de luzes de celulares que formavam uma constelação infinita de equipamentos eletrônicos.

Apesar da nova produção e maior evolução musical, os rapazes do Coldplay ainda continuam os mesmos que subiram ao palco no Rio em 2003. Continuam com carisma e a energia que poucas bandas possuem e se divertem com o que fazem. Como provou a bela e inédita canção Don Quixote ao final do show, tudo indica que novas belas canções e muitos outros shows impressionantes do Coldplay virão por aí.



Setlist:

Life in Technicolor
Violet Hill
Clocks
In My Place
Yellow
Glass of Water
42
Fix You
Strawberry Swing
God Put a Smile Upon Your Face
Talk
The Hardest Part
Postcards From Far Away
Viva la Vida
Lost
Shiver
Death Will Never Conquer
Don Quixote
Viva la Vida (Remix)
Politik
Lovers in Japan
Death and All His Friends
The Scientist
Life in Technicolor ii